Águas subterrâneas como potencial no Espírito Santo

                                                                                                                                                
O Espírito Santo tem passado por um longo período de estiagem e as consequências destes problemas climáticos só agravam. Desde o início de 2015, há um cenário de alerta instaurado no Estado e, com isto, uma série de medidas foram tomadas, como a redução e o corte no abastecimento de água, que tem deixado a população, principalmente os agricultores, em situação delicada. Neste ano de 2016, a situação não teve melhora e esta é a maior crise hídrica que assola o Estado em 40 anos. Em seu terceiro ano consecutivo sem chuvas no Estado, estima-se que 29 municípios estão em situação complicada para o abastecimento de água.

No entanto, a falta de água para atender a sociedade se resulta também de uma série de fatores que contribuem para o agravamento da situação, como explica a presidente da ABES-ES, Nadja Lima Gorza. “A crise decorre de décadas de procedimentos inadequados em relação ao uso da água e do solo, e também da cultura de abundância de água para a grande maioria da população brasileira. Fatores como a vontade política, a demanda crescente pelo uso da água, a degradação ambiental dos mananciais, a expansão urbana desordenada, o desperdício nos sistemas de distribuição e a falta de um real envolvimento e conhecimento da população acerca da realidade existente, demonstram que não se trata somente de um problema de falta de chuvas”, destaca.

Desta forma, o atual cenário traz a conscientização de que a água deve ser utilizada com racionalidade, precaução e parcimônia. Sua preservação é vital para a superação deste período crítico, como afirma a presidente da ABES-ES, Nadja Lima Gorza. “A escassez hídrica tem provocado uma consciência abrangente de que a água é um recurso finito que deve ser preservado, e que a sua gestão envolve todos os setores da sociedade. As políticas públicas voltadas à gestão integrada dos recursos hídricos e meio ambiente, regulação e governança, bem como instrumentos econômicos e de aprimoramento tecnológico, precisam ser fortalecidos. O desafio maior não está na criação de leis, mas na implementação da legislação atualmente em vigor”, disse.

Reservas subterrâneas

Os aquíferos (reservatórios de águas subterrâneas) que possuem enorme capacidade de armazenamento de água é uma forma de se contornar esta situação. A utilização deste recurso hídrico permite a realização do abastecimento para a população e também para os setores da indústria e agricultura. Segundo o Vice Diretor do CEPAS|USP e Professor do Instituto de Geociências da Universidade de São Paulo, Ricardo Hirata, “os aquíferos representam 97% de toda a água doce e líquida do planeta e são extremamente resilientes aos períodos de seca, ou seja, podem fornecer grandes quantidades de água, mesmo por longos períodos sem chuva”, afirma.

Com as incertezas climáticas vigentes, há uma tendência para o crescimento no investimento de programas voltados à segurança hídrica, e isto é decorrência de mudanças climáticas globais que propiciam as irregularidades de chuvas entre outros fatores que levam à instabilidade do meio ambiente. E com os estudos a respeito da segurança hídrica, existe a possibilidade de obtenção de água de qualidade para a população.

Para o Vice Diretor do CEPAS|USP e Professor do Instituto de Geociências da Universidade de São Paulo, Ricardo Hirata, “o conceito de segurança hídrica remete a ideia de se ter água em quantidade e qualidade suficientes para suprir uma demanda específica hoje e no futuro, sem obviamente comprometer o ambiente ou mesmo criar problemas sociais. Assim, o conceito em um sentido amplo é oferecer água a custos competitivos e que a sua restrição não provoque prejuízos à sociedade. É importante ressaltar que o conceito de segurança hídrica não é restrito ao abastecimento público, mas sim pode ser aplicado a um único empreendimento, como uma indústria ou uma lavoura”, ressalta.

Ricardo Hirata também esclarece que existe um entendimento no Brasil de que estes reservatórios naturais não são bem utilizados devido à visão de conservá-los para o futuro, no entanto, trata-se de um recurso renovável e que seu uso não compromete a sua sustentabilidade. “É um recurso que pode e deve ser usado, desde que o seu uso seja planejado e boas práticas de uso sejam implementadas, não somente pelo Estado, mas também pelos usuários”, destaca Hirata.

Sobre o Espírito Santo, Ricardo Hirata ressalta que há grande potencial para a extração de águas subterrâneas, porém ainda sendo um recurso renovável e sustentável é necessário ser realizada a captação de água com as melhores práticas e técnicas existentes. “O Espirito Santo possui grande potencialidade de extração de água subterrânea, entretanto, é um dos Estados com menos conhecimento da hidrogeologia e com menor aproveitamento para o abastecimento público. Assim, é fundamental, para o bom gerenciamento do recurso, que apresenta água barata e de excelente qualidade, estudos regionais de reconhecimento dos aquíferos e sua potencialidade”, afirma.

Portanto, é importante que se tenha conhecimento aprofundado acerca do tema para obter aproveitamento deste recurso hídrico e também para que não haja riscos de contaminação da água. No Brasil, cerca de 50% da população é abastecida por águas subterrâneas por meio de companhias de água. No Espírito Santo, 6 cidades são abastecidas parcialmente, mas que não há cidades completamente abastecidas com águas subterrâneas. No total são 1,6 milhões de pessoas atingidas. E um grande problema é que 70% dos poços no país são ilegais e não possuem registro ou qualquer autorização de explotação.

A não compreensão da relevância deste modo de captação de água pode gerar graves problemas. São dois possíveis riscos, como a contaminação e a superexplotação. Assim explica o Vice Diretor do CEPAS|USP e Professor do Instituto de Geociências da Universidade de São Paulo, Ricardo Hirata. “O primeiro caso está associado a atividades antrópicas, que contaminando o aquífero, acaba por degradar a água que chega ao poço. Já a superexplotação ocorre por se retirar mais água que a capacidade do aquífero em fornecer, causando a redução da disponibilidade de água, aumento de custo na explotação, ou problemas ambientais e sociais”, relata.

Para que seja concedida a utilização de poços é necessário solicitar uma licença de perfuração ao órgão do Estado responsável pela gestão do recurso hídrico, após este procedimento o órgão avaliará se não há nenhum problema ou restrição com o local, por exemplo, se esta área possui riscos. Com a licença, o poço é perfurado e avaliado para saber as reais condições, como o quanto de água produz e se a qualidade da água é adequada, com isto é encaminhado outro pedido para a concessão do poço.

Esta situação de escassez em que há a busca por alternativas de abastecimento podem ocorrer sem nenhuma orientação ou qualquer técnica, por se tratar de uma ação comum, e assim pode ocorrer a retirada de água contaminada e acarretar problemas que englobam a saúde pública. Por isso, se faz necessário os estudos específicos que permeiam esta área.

Nesse contexto, a Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (ABES) trabalha incansavelmente para o desenvolvimento e o aperfeiçoamento das atividades relacionadas com a engenharia sanitária e ambiental, na busca da melhoria do meio ambiente e da qualidade de vida da sociedade brasileira, mediante ativa presença e participação em âmbito nacional, regional e local, nas questões e formulações técnicas e institucionais relacionadas ao saneamento ambiental, em toda sua amplitude.

Além disso, o Programa de Capacitação da ABES/ES tem como objetivo fomentar cursos, utilizando-se da vasta experiência dos profissionais vinculados à instituição, no sentido de promover qualificação profissional de alto nível. E a cerca do tema sobre captação de águas subterrâneas, a ABES/ES convidou o Vice Diretor do CEPAS|USP e Professor do Instituto de Geociências da Universidade de São Paulo, Ricardo Hirata, para ministrar o curso sobre "Gerenciamento de Águas Subterrâneas Urbanas: Novas Estratégias para o Aumento da Segurança Hídrica em Tempos de Escassez", que será realizado nos dias 19 e 20 de maio, das 08h às 17h, no auditório da Agência Estadual de Recursos Hídricos (AGERH).

 


Professor Ricardo Hirata

 

 

Conheça mais sobre o Professor Ricardo Hirata:

Ricardo Hirata é geólogo formado pela UNESP, prof. do Inst. de Geociências da USP e Vice-Diretor do CEPAS (Centro de Pesquisas de Água Subterrâneas, Diretor em 2011-14). Desenvolveu o seu doutorado e mestrado na USP e Pós-doutorado na Universidade de Waterloo (Canadá). É consultor da UNESCO e da International Atomic Energy Agency (IAEA) e foi Membro Assessor em Águas Subterrâneas do Banco Mundial (GW-Mate) e Professor Visitante na University of Calgary (Canadá). Foi Hidrogeólogo Sênior do Instituto Geológico (São Paulo), Professor Visitante na Universidad de Costa Rica (Programa Canadá-Costa Rica), Hidrogeólogo Residente do CEPIS-Organização Mundial da Saúde (Peru) e Hidrogeoquímico Chefe do Departamento de Águas e Energia Elétrica (SP). Atuou também como consultor da Organização Pan Americana da Saúde (OPAS/OMS). Vem trabalhado intensivamente com recursos hídricos e águas subterrâneas no Brasil e em mais de 26 países, inclusive ministrando cursos profissionais.  Desde 1984, tem vários trabalhos publicados em hidrogeologia, incluindo manuais de referências e livros para a OPAS/OMS, Banco Mundial e UNESCO, traduzidos em inglês, espanhol e português. Desde 2011, é Editor Associado da Revista Brasileira de Geociências. É pesquisador 1B do CNPq

 

Jornalista: Amanda Silveira

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